terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Gata e dono: amor depois da morte













por Rosane Marchetti

Mucufa sumiu logo após o acidente que matou Antenor. Dois anos depois, familiares dele encontraram a gata no túmulo do antigo dono. Ela escolheu esse lugar para ter uma ninhada.


Como explicar o amor de um bichinho de estimação por seu dono? Em uma casa simples, em Passo Fundo, no planalto médio do Rio Grande do Sul, vive a personagem de umas das histórias mais emocionantes de amor entre um animal de estimação e seu dono. Mucufa é uma gata vira-latas que vivia com Antenor. Sempre no colo, era a companheira do chimarrão de todas as manhãs. A convivência durou cerca de dois anos.

Nilvo Tomazoni, irmão do antigo dono da gata, conta como Antenor tratava a Mucufa: “Tratava bem, cuidava, dava comida. E agatinha vinha no colo dele”.

Um dia, Antenor partiu para uma competição de motocicletas e nunca mais voltou. Morreu em um acidente. Mucufa acabou sumindo de casa. Ninguém nunca mais a viu. Até que um ano depois, a irmã e a cunhada de Antenor ficaram impressionadas com o que encontraram no cemitério. Mucufa estava lá e não estava sozinha. Com ela, havia uma ninhada de gatinhos.

A história de Mucufa é emocionante e surpreendente aos nossos olhos, mas cheia de mistérios à nossa razão. Buscar abrigo em um cemitério pode ser puro acaso. Agora, como uma gata, entre tantos abrigos semelhantes, escolhe entrar justamente naquele onde o dono foi enterrado? Para espanto da família, foi dentro do local que ela buscou abrigo e conforto para ter a primeira ninhada.

“Fiquei muito emocionada, muito mesmo. Para mim, foi maravilhoso, quando a gente abriu a porta, e a gatinha estava bem ali com todos os gatinhos ao redor dela. E ela ficou olhando para nós. Depois, saiu pela janela e deixou os gatinhos”, revela Marilene Lubian, cunhada de Antenor.




Marilene conta ainda o que o que sentiu no momento em que viu a cena: “me deu uma emoção, uma alegria, uma tristeza, uma vontade de chorar, uma vontade de rir. Dava impressão de que ele estava ali. Se ela veio procurar ele aqui, com certeza sentiu falta do colinho dele”.

Olfato ou instinto? O que teria levado a gatinha até o dono? Será que a explicação pode ser genética?

“Ela provavelmente localizou pelo olfato. Acho que a melhor explicação é a do sentimento da sensação de segurança que o cheiro do dono transmitia, porque, quando esses animais entram para nossa família, de um modo geral, nós é que somos o líder, e eles são aqueles que estão sob a nossa responsabilidade, sob a nossa liderança. O líder nos protege e cuida da gente. Assim, onde eu estaria em um lugar seguro? Onde está o líder e chefe da minha matilha que me protege das coisas horríveis que podem acontecer no mundo. Então, se eu vou procurar um lugar seguro onde procurarei? Onde está o meu bando. Mesmo que esse sujeito esteja a sete palmos de terra, aqui é o lugar do meu bando. Então, é aqui que eu vou ficar”, explica o geneticista Renato Flores Zamora, da UFRGS.



Esse mistério intrigou a família e a cidade inteira e virou manchete de jornal: "Nem a morte os separou". Mucufa foi levada pelos parentes de Antenor e vive com eles, mas a impressão que dá é que fez apenas uma concessão.

“As pessoas se apegam aos bichos, e os bichos se apegam ao dono. Essa gata ela está aqui, mas ela não vem no colo, não entra dentro de casa. É muito difícil”, conta o irmão de Antenor.

Mucufa fica próxima, mas distante. Em uma família com várias pessoas, cães e gatos costumam escolher um dono e por ele demonstram afeto, compaixão e até o defendem. Se essa demonstração de sentimentos não é novidade, o que dizer de uma amizade além da vida?


Fonte: http://g1.globo.com/


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