por Nathalia Fabro(*).
Com supervisão de Thiago Tanji.
Felino idolatrado no Egito ainda é tachado de azarado por causa de crenças antigas da Europa Medieval.
Provavelmente você já ouviu que gato preto dá azar. A crendice tem origem na Idade Média e causa prejuízos aos felinos até hoje. Uma pesquisa da ONG britânica, Cats Protection, indicou que os pretinhos demoram 13% a mais de tempo para serem adotados em relação aos bichanos de outras colorações.
No Brasil, a situação não é diferente. Na Catland, ONG de resgate e adoção responsável de gatos, 60% dos animais que estão à espera de um lar têm o pelo na cor escura. "Às vezes a gente resgata um monte, toda ninhada é adotada e só fica o preto", diz Perla Poltronieri, sócio-fundadora da instituição.
Em datas como sextas-feiras 13 e Halloween (31 de outubro) os gatos pretos correm muito perigo pois, além de serem vítimas de preconceito, eles são alvos de superstições e rituais macabros nos quais acabam assassinados.
"Esses rituais que matam gatos são para entrar em conexão com forças do mal", afirma Luciano Gomes dos Santos, professor de História na da Faculdade Arnaldo (MG). "É uma forma de estar protegido para fazer o mal, ou se proteger do mal."
Para combater o estigma, a Cats Protection criou o Dia do Gato Preto, celebrado anualmente em 27 de outubro. A entidade estimula que proprietários de felinos postem fotos deles com a tag #BlackCatDay destacando suas qualidades.
Mistura do Brasil com Egito?
No país das pirâmides, os gatos são sagrados e considerados deuses — não é a toa que a Grande Esfinge de Gizé tem o corpo em formato de felino — pois eles ajudaram os egípcios a combater os ratos que acabavam com as plantações da região. A deusa da fertilidade Bastet, por exemplo, é representada como uma gata preta.
A trajetória negativa associada ao animal teve início na Era Medieval. "Primeiro há a ideia de que a cor preta está ligada às trevas, e ter um grato preto estava relacionado à imagem do demônio", explica o historiador.
Muitas mulheres da época que eram parteiras cultuavam Bastet, e mexiam com ervas e poções. Por isso, elas passaram a ser consideradas bruxas. Acreditava-se que as feiticeiras se disfarçavam de gatos à noite para que elas pudessem caçar e fazer bruxarias.
No período da Inquisição, os bichanos começaram a ser aniquilados pois o Papa Gregório IX ordenou que eles fossem exterminados. "Era uma forma, no contexto cristão, de combater o paganismo", informa o professor.
Posteriormente foi a vez das mulheres, tratadas como bruxas, serem perseguidas. "Povos persas e antigos diziam que os gatos pretos têm alma ruim, que mora nele um espírito ruim e que dentro dele há uma bruxa", fala Isabel Fomm de Vasconcellos, autora do livro Todas as Mulheres são Bruxas (Barany Editora).
Apenas em 1630 que a violência contra os gatos foi proibida, por decreto do rei Luís 13.
Segundo Vasconcellos, o conto Gato Preto, de Edgar Allan Poe, também contribuiu para que o preconceito continuasse contra os bichanos. Na história, um rapaz começa a ter atitudes negativas e comete até assassinato. O gato é apontado como influenciador dos atos.
Não atire o pau no gato
Como o Brasil tem muitos católicos e crenças cristãs, a rejeição ao felino permanece enraizada na sociedade. Exemplo claro disso é uma das cantigas mais populares do país: Atirei o Pau no Gato, canção que trata com "normalidade e alegria" a agressão ao bicho.
Maus-tratos de animais é considerado crime, com a possibilidade de detenção de três meses a um ano, além de multa. "Vale para abandono, ferimento, mutilação ou homicídio", avisa Fabricio Posocco, advogado.
(FOTO: FLICKR/ CHRIS YARZAB/ CREATIVE COMMONS) |
Caso você presencie uma situação em que o gato está em perigo, é possível fazer uma denúncia no Ibama (0800 61 80 80), Disque Ambiente (0800 11 35 60), Disque Denúncia (181) e na Polícia Militar (190).
Se você encontrar um gato ferido, o recomendado é levá-lo num centro médico animal. "O gato vai estar assustado e vai te atacar. Tem que usar luvas, envolvê-lo numa toalha e tomar cuidado", indica Thiago Calaresi, veterinário.
* Com supervisão de Thiago Tanji
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