sábado, 17 de setembro de 2016













Carlos Gabriel Dias, médico veterinário, especialista em felinos,  alerta para prevenção de duas doenças perigosas Aids e Leucemia Felina. E todos os felinos devem ser testados basta estarem 'miando'

Os piores tipos de doenças - tanto em animais quanto em humanos - são aquelas silenciosas. Pior ainda, são as silenciosas e que não têm cura. Por isso, os gateiros ficam com frio na espinha só de ouvir falar em duas siglas : FIV e FeLV. Conhecidas, respectivamente, como a Aids e a Leucemia Felina, convencionou-se citar essas duas doenças juntas, em razão das semelhanças em alguns aspectos. Mas é importante frisar que são patologias distintas e cada uma tem as suas próprias peculiaridades. Entretanto, essa "dupla" tão temida tem algo em comum e que deve sempre ser levado em consideração, sim, de forma conjunta: a necessidade de se fazer o teste dessas doenças em todos os gatos com mais de um mês de vida, sem exceção. Quanto mais cedo se detectar o diagnóstico positivo (seja uma ou outra), mais cedo o tratamento terá inicio, oferecendo uma maior qualidade de vida ao felino e evitando a contaminação em outros gatos.




O FeLV (Vírus da Leucemia Felina) e o FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina), infelizmente, são mais comuns do que se possa imaginar. Sorrateiras, elas podem passar anos no organismo do gato sem que você saiba e quando o diagnóstico é feito, pode ser tarde demais. A maior arma contra elas é a informação, saber que seu peludo é portador e saber detectar os sinais de problemas precocemente podem salvar uma vida.

Mas aí vem a pergunta clássica que um gateiro faz, após ser informado sobre os perigos dessas doenças, e já com o coração na mão: "Mas em que situação eu devo fazer esse teste em meu(s) gato(s) ?" E a resposta é categórica: em qualquer situação ! Todo animal, independente de origem, idade, raça e sexo, deveria ser testado! Isso auxiliaria em muito o diagnóstico permitindo excelente qualidade e tempo de sobrevida em muitos casos! Muitos, quando corretamente manejados, vivem tanto e tão bem quanto animais negativos para essas doenças! Estima-se que, de 5 a 10% da população geral de gatos no Brasil tenham uma destas viroses (dependendo da estatística utilizada). Ou seja, de cada 10 pessoas que tem um gato, uma pode ter um gato positivo para uma das retroviroses.




E foi ao perceber essa falta de informação, até mesmo entre alguns colegas de profissão, que o Médico Veterinário Carlos Gabriel Dias lançou a campanha #MiouTestou há cerca de um ano : "A ideia era fazer um alerta para a importância de se diagnosticar essas doenças o mais precocemente possível. Mas depois de tanto ouvir as pessoas perguntando sempre quando deveriam testar ou em que caso deveria ser testado, eu comecei a responder: Ta vivo? Ta miando? Então testa ! Daí surgiu o Miou Testou", explica. E a resposta bem-humorada, mas que dava o recado de forma bem direta, virou uma campanha com a criação da hashtag MiouTestou. A adesão foi instantânea e multiplicada pelas redes sociais. 




Mas apesar disso, o desconhecimento com as duas doenças ainda é enorme. Por isso, é preciso entender um pouco mais sobre ambas: - 




- Como se contrai ?



A transmissão da FIV se dá basicamente pelo contato com o sangue, quando um gato é mordido ou arranhado por um gato portador do vírus. Já a FeLV pode ser transmitido através de saliva, secreções e pelo contato com fezes e urina infectada. Por isso, é comum o contágio entre gatos que compartilham caixinhas de areia ou potes de comida e água. "É costume dizer que a FeLV é transmitida entre os "amigos" e a FIV entre os "inimigos", brinca o Dr Gabriel.

Nos dois casos, as gatas infectadas também podem transmitir para seus filhotes por via transplacentária ou através da amamentação. E é importante ressaltar que, em ambos, o virus só é transmitido de gato para gato, e não para humanos ou para outros animais.



- Quais os sintomas ?

Na FIV, em sua fase inicial, o gato pode ter febre, aumento dos gânglios linfáticos e aumento da chance de contrair infecções intestinais e cutâneas. Tudo isso pode acontecer num período de 4 a 6 semanas após o contágio. A FeLV também compromete a imunidade do gato, e por isso pode-se observar diversos sintomas, como perda de peso, anemia, depressão, tumores, difculdades respiratórias, febres, problemas nas gengivas, problemas estomacais e mucosas alteradas na região dos olhos. Os dois vírus podem permanecer no organismo por anos sem o gato manifestar nenhum sintoma, mas podendo ser transmitida.

- Como testar ?

Através de um exame realizado em quase todas as clínicas veterinárias. Geralmente são utilizados testes rápidos, com leitura em 10 minutos, sendo necessário coletar um pequeno volume de sangue para realizar o teste. Além dele, existem métodos confirmatórios como a PCR, que é realizada em laboratório. O mais importante é que não existe o melhor teste, todos são válidos apesar de nenhum deles ser 100% seguro, podendo o resultado sofrer algum tipo de interferência por diversos motivos. Por isso, recomenda-se após o primeiro teste, testá-lo novamente dentro de 3 a 4 meses para que se confirme o resultado.

- Como é o tratamento ?

Como ainda não há cura para nenhuma das duas, o tratamento de ambas consiste em melhorar a qualidade de vida dos gatos para que não contraiam outras doenças, e também do tratamento dos sintomas. Na FeLV, em muitos casos é recomendado a transfusão sanguínea e a quimioterapia, que podem ajudar bastante e prolongar a vida do animal. Medicações para melhorar a imunidade e aumentar o apetite podem ser necessárias, assim como uma alimentação de qualidade para mantê-lo forte.

De que forma um animal adquire a doença? 
Gabriel Dias - Por meio do contato direto com animais portadores e também suas secreções. Existem orientações específicas na literatura como, por exemplo, uma maior incidência do contágio através de mordidas no caso do FIV, ou entre lambeduras mútuas no caso do FeLV, mas não vamos negligenciar. A orientação é separar positivos de negativos e, na dúvida, sempre retestar os animais.

Por que é uma doença silenciosa? 
GD - É uma característica do vírus. Ficar “quietinho” durante um tempo prolongado faz parte da estratégia para aumentar a chance de disseminação do vírus e transmissão para outro gato. 

Quando é indicado testar o meu gato?
GD - “Antigamente” a orientação era estabelecer um perfil de maior risco, mas hoje não corremos o risco de negligenciar com a indicação. Por isso que através de uma “brincadeira” no meu ambulatório idealizei a campanha do #mioutestou porque muitos responsáveis por gatos são surpreendidos com um diagnóstico positivo porque acreditavam que o Vírus é comum em gatos na rua apenas. Contaminados por suas mães, em uma idade tenra com outros gatos, em uma voltinha não lembrada que aconteceu há muito tempo, etc. 

Existe mais de um teste? Qual o mais confiável?
GD - Existem diferentes testes e definitivamente precisamos parar de divulgar que um método é melhor do que outro. Eles são escolhidos e associados através de critério Médico Veterinário. Quando utilizamos apenas um método, a rotina de pesquisa fica limitada. A escolha não é a mesma, é elástica e em acordo com as informações e diretrizes clínicas. Divulgar exemplos, condutas, casos clínicos são ilustrativos, mas perigosos porque aumenta a chance do leitor desenvolver questionamentos e conclusões equivocadas. O meu não fez tal método e o gato do meu vizinho fez aquele outro. Qual o melhor? Um gato que provavelmente está isolado em um apartamento há mais de seis meses tem uma indicação diferente daquele que está sendo introduzido imediatamente após um período sem domicílio. Ainda que ambos sejam negativos, cada caso merece uma contraprova/outro método de confirmação, ou não. Tudo vai depender do Médico Veterinário sempre.

Os exames podem oscilar os valores de referência para positivo ou negativo?
GD - Isso é a polêmica mais frequente. Ambos os vírus apresentam comportamentos biológicos “astutos e incertos”. Vale ressaltar sempre que observamos respostas imunológicas individuais. Essa combinação de possibilidades aumenta a chance de quadros clínicos e laboratoriais extremamente distintos. Precisamos aceitar isso para aumentar a chance da orientação fluir melhor. O que acontece com um paciente, pode não ser observado em outro. O que dizer de pacientes que acompanho e são portadores de ambos os vírus e estão muitíssimo bem clinicamente há quase 4 anos?

O que fazer se um gato for positivo e outros não que convivem no mesmo espaço?
GD - Precisam ficar separados sempre. Não temos outro jeito. No caso de infecção por FeLV podemos vacinar efetivamente os animais não portadores e garantimos uma convivência com pouquíssima possibilidade de contaminação. Acompanho muitas adoções especiais bem sucedidas. Outra situação que tem me preocupado são grupos grandes de positivos. Eventualmente não há outra possibilidade, mas me preocupo com as recontaminações e combinações de vírus aumentado a gravidade dos sinais nos pacientes positivos.

Quais os sinais clínicos mais comuns?
GD - Nos quadros evoluídos da infecção observamos imunossupressão e doenças oportunista e/ou com pouca resposta terapêutica, mas a diversidade de sintomas é grande e inclui tumores e anemia severa. 

Existe alguma prevenção?
GD - Não permita que seus gatos saiam de casa, testem os gatos para que tenhamos a possibilidade de protegê-los com vacinas e domicilio seguro e enriquecido e divulguem o #mioutestou em suas redes sociais para que mais pessoas conheçam os acrônimos FeLV e FIV.

Qual o tratamento? Expectativa de vida?
GD - Quanto mais precoce o diagnóstico, efetiva qualidade de vida fornecemos ao nosso paciente bigodudo. Cada caso merece um protocolo de indicações diferente. Conversem exaustivamente com seus Clínicos Veterinários de confiança e jamais compartilhem recomendações, compartilhem esperança, apoio e incentivo para prevenção.

Algumas clínicas especializadas já detém hoje uma estrutura capaz de tratar esse tipo de doença, como é o caso da The Cat From Ipanema, que é especializada em felinos e conta com um ambulatório de doenças infecciosas muito bem equipado, sob o comando da Dra Sheila Medeiros, especialista na área. Mas a realidade no país, em geral, é a falta de estrutura para o tratamento adequado. Para a Dra Bianca Couto, que coordena a clínica em Ipanema, o problema vai além: "Infelizmente o que ainda é muito escasso, além da boa estrutura, é a informação. Esse é o ponto-chave".

Pois então, já testou o seu gato ?



Fonte: Thiago Martins de Freitas/http://port.pravda.ru/science





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