domingo, 25 de setembro de 2016


Os gatos eram Vikings?.

por Helô D'Angelo 
Editado por Tiago Jokura

Reprodução iStock Hocus Focus (exagerada é claro pelo Blog)

Embora a ciência tenha quase toda a história dos cachorros muito bem mapeada, a dos gatos ainda é um grande mistério: até agora, o que se sabia era que eles conviveram com os egípcios, mas ninguém nunca tinha estudado a fundo a trajetória dos bichanos. Essa semana, tudo mudou quando o primeiro grande estudo genético sobre felinos do passado foi publicado - e trouxe algumas surpresas. Para começar: os vikings tinham gatos. 

O estudo é da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e analisou os DNAs dos fósseis de 209 gatos que viveram entre 15 mil e 3.700 anos atrás - todos encontrados em várias partes do mundo, em sítios arqueológicos da Europa, do Oriente Médio e da África. Alguns foram achados em tumbas do Egito antigo, de cerca de 9.500 anos; outros, em cemitérios no Chipre. Mas alguns dos ossos foram descobertos em um antigo acampamento viking na Alemanha - é, eles já eram pets populares assim há muito, muito tempo. 

Analisando o genoma dos gatinhos, os cientistas reconstruíram boa parte da história deles. É mais ou menos assim: tudo começou no Oriente Médio, há cerca de 12 mil anos, junto com o início da agricultura. Nessa época, gatos selvagens ancestrais dos bichanos atuais teriam começado a se aproximar de plantações, atraídos pelos ratos que estavam atrás dos grãos das colheitas. Os fazendeiros, claro, encorajavam a presença dos gatos - afinal, além de fofos, eles acabavam com a praga que eram os ratos. 

Com o tempo, esses animais selvagens foram domesticados e passaram a ser levados em navios de mercadores que navegavam pelo Mediterrâneo, também para acabar com roedores. Quando as embarcações aportavam, os gatos saíam para terra firme, se espalhavam e acabavam cruzando com outras espécies de felinos locais, por vezes selvagens. O resultado? A cada geração, filhotes menores e menos agressivos. 

Milhares de anos depois, com os vikings, os gatos - já muito parecidos com os de hoje em dia - teriam a mesma tarefa: matar ratos a bordo dos navios de guerra, além de servir de companheiros dos soldados durante as longas e tediosas viagens. Esses gatos já eram uma espécie completamente diferente daquela inicial, e continuaram com o mesmo DNA de lá para cá. E olha que estamos falando do século 8 aqui - isso mesmo: seu gato tem o DNA dos vikings (ou, pelo menos, dos gatos vikings). 

O legal é que realmente dá para ligar a presença dos gatos a antigas lendas nórdicas: Freja, a deusa nórdica do amor, tinha uma carruagem puxada por dois gatos; enquanto isso, Utgard tinha um gato gigante - que, na verdade, era uma serpente, mas já deu pra entender.

E o que diz a Ciência?

Um dos trabalhos mais inusitados sobre esses felinos que nos encantam diariamente, foi apresentado no Simpósio Internacional de Arqueologia Biomecular, que aconteceu em Oxford (Inglaterra) e envolveu os gatos; exatamente os Gatos Vikings.

Ao analisar o DNA dos felinos domésticos, os pesquisadores descobriram que os vikings levavam gatos em seus navios nas viagens de conquista do mundo . “Nem sabia que haviam gatos vikings”, disse Pontus Skoglund, geneticista populacional da Universidade de Harvard (EUA), que não estava envolvido no estudo.

"Nós não sabemos a história dos gatos antigos. Nós não sabemos a sua origem, não sabemos como a sua dispersão ocorreu", diz Eva-Maria Geigl, geneticista evolutiva no Institut Jacques Monod em Paris. Ela apresentou o estudo no 7º Simpósio Internacional de Arqueologia Biomolecular em Oxford, Reino Unido, juntamente com colegas Claudio Ottoni e Thierry Grange.

Um enterro humano datado de 9.500 anos de idade, encontrado em Chipre,  continha os restos mortais de um gato. Isto sugere que a afinidade entre as pessoas e os felinos acontece, pelo menos, há 12.000 anos. Os antigos egípcios podem ter domesticado gatos selvagens há 6.000 anos, e sob dinastias egípcias posteriores, os gatos eram mumificados. Os pesquisadores analisaram o DNA mitocondrial dos restos de 209 gatos de mais de 30 sítios arqueológicos em toda a Europa, Oriente Médio e África. As amostras datada do período Mesolítico - o período imediatamente antes do advento da agricultura, quando os seres humanos viviam como caçadores-coletores - até o século XVIII.

As populações de gatos parecem ter crescido em duas ondas. A primeira onda se refere aos gatos selvagens do Oriente Médio. com uma linhagem mitocondrial especial expandida com comunidades agrícolas . Geigl sugere que os estoques de grãos, associados a estas comunidades agrícolas, atraiam os indesejáveis roedores, que por sua vez atraiu os gatos selvagens. Depois de ver o benefício de ter gatos ao redor, os seres humanos poderiam ter começado a domesticar estes gatos. Milhares de anos depois, gatos descendentes daqueles do Egito se espalharam rapidamente pela Eurásia e África. A linhagem mitocondrial, comum em múmias do gato egípcio a partir do final do século IV aC ao século IV dC, também foi levado pelos gatos na Bulgária, Turquia e África sub-saariana, por volta da mesma época.

A segunda onda acontece com os exploradores - como os Vikings -  que se aventuravam pelo mar e que provavelmente mantinham os gatos para manter os roedores bem longe de suas despensas, diz Geigl, cuja equipe também encontrou a linhagem materna de DNA dos gatos do Egito em um local Viking datado entre o oitavo e o décimo primeiro século, no norte da Alemanha.

O financiamento para a genômica do gato moderno é escasso, o que é uma razão pela qual o gato fica muito atrás das pesquisas sobre os cães. Os cães são então mais populares do que os gatos entre os pesquisadores? Geigl é enfática:"Nós podemos fazer isso também", diz ela. "Nós só precisamos de dinheiro."

Fonte: SuperAbril.com.br e hypescience.com

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